Alexandra: "Eu levo o kochka lá na verkh"

Alexandra, a menina russa que foi retirada à família portuguesa com quem viveu quatro anos e partiu para a Rússia há pouco mais de um mês, aumenta diariamente o seu vocabulário russo, esquecendo aos poucos as palavras equivalentes em português.
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"Eu levo o kochka lá na verkh", grita Alexandra numa mistura de russo e português, enquanto pega num gatinho (kochka em russo) siamês e o leva para cima (na verkh) do forno russo, onde tem instalada a "casa" de seus amigos: gatos, bonecas, livros...

"Por enquanto, ainda é Sandra mas, daqui a pouco tempo, já será Chura [um dos diminuitivos russos de Alexandra]", diz à Lusa o avô Serguei.

"Ontem, por telefone, João e Florinda [os 'pais' portugueses] perguntaram-lhe se ela queria voltar a Portugal e a Sandra respondeu que não, que aqui estava melhor", acrescenta.

Valéria, a irmã da criança, acabada de chegar a casa da escola, corrobora; "A minha mãe disse-nos ontem que a Sandra disse aos portugueses que não queria regressar, que gostava muito de estar aqui".

"Valéria! Valéria!", grita Alexandra ao ver a irmã mais velha a entrar no umbral da velha casa de madeira da família Zarubin.

"Adora a irmã mais velha! É a maior amiga da Sandra. Anda sempre atrás da Valéria quando ela está em casa, não a deixa um minuto em paz", confirma a "mãe Natália", como lhe chama Alexandra.

"Os portugueses devem viver em Portugal, os russos na Rússia e os alemães na Alemanha. Eu não tenho nada contra outros povos, vivi com gentes de muitas nacionalidades no Cazaquistão, mas a minha posição é esta", junta-se a avó de Alexandra à conversa.

Porém, as palavras dos membros da família dos Zarubin já não são pronunciadas com a mesma firmeza e convicção de há um mês atrás. O não de Natália à ideia de voltar a Portugal já não é tão categórico.

"Vamos ver. Por enquanto, ainda tenho muitos problemas burocráticos a resolver, tenho de me inscrever no fundo desemprego, comprar uma máquina de costura para começar a trabalhar", afirma, reconhecendo que não recebeu qualquer ajuda das autoridades russas além de quinze dias de férias numa casa de repouso do Distrito de Iaroslav.

Alexandra, aparentemente alheia aos conflitos dos adultos, não pára um minuto, corre pela horta e grita: "Babotchka" (borboleta), "babuchka" (avó), "kartochka" (batata).

A menina fala numa mistura de russo e português, sendo cada vez maior o número de palavras russas nas suas conversas, mas continua a dizer em português "mãe Natália" e "mãe Florinda".

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